Não quero abusar do privilégio de citar Raquel Gonçalves, mas encontrei um trecho que não posso deixar escapar:
"Porque razão temos um mar feito de lágrimas e sílabas feitas de plástico?"
O texto ficou bem impresso na memória, é de 2011...
É fácil compreender a reminiscência, a autora revela um completo à-vontade com as belas-letras lusas. Uma familiaridade, infelizmente, incomum.
Eu sublinhei as "síbalas feitas de plástico" porque sempre gostei do poema «Portugal», de Alexandre O'Neill: «Ó Portugal, se fosses só três sílabas, (...), de plástico, que era mais barato!».
Regressando à crónica, fico surpreso, como um texto de 2011, não perde a sua força, com o natural efeito de erosão do tempo:
"Encostámo-nos a um tempo que é o nosso e deixámo-nos ficar no conforto daquilo que conhecemos. Que pode não ser grande, nem glorioso, mas é nosso."
E desobedecendo à sequência do texto, volto a subscrever as palavras da autora:
«Provavelmente não existem respostas, nem grandes explicações ou filosofias. É assim e pronto, como as coisas que realmente não se explicam.»
Serve tudo isto, para uma muito pessoal conclusão.
Há muito e previdente talento na nossa região, porém, sou quase forçado a concluir: este não está presente nos lugares certos.
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